" ESCREVER É PRECISO "

sábado, 4 de março de 2023

POESIA COM ESPIRITUALIDADE



POESIA COM ESPIRITUALIDADE



"A espiritualidade é apenas uma. (...) é para os que estão despertos. (...) é causa de União (...) se ocupa com o Ser.". (Teilhard de Chardin).

"Ciência, Filosofia e Religião convergem necessariamente nas vizinhaças do Todo. Convergem, dogo bem; mas sem se confudirem, e sem deixarem, até o fim, de abordar o Real so ângulos e planos diferentes.". "Ser mais é unir-se cada vez mais.".  (O Fenômeno Humano. T. de Chardin. pp. 19 e 25).


“Sua história, poesia e trajetória de vida me levam a acreditar que apesar desses dias inglórios os que estarão aqui depois da gente saberão agir de uma forma tal que não cometerão os erros que a gente infalivelmente comete. Você é pra mim uma referência no movimento, na poesia e na vida. Não exemplo, não se trata disso, é um pensador, filósofo que tem o dom da poesia e a síntese de quem parece que conhece a linha de chegada da luta... Um abraço.”. (Augusto Cesar Tavares).

 

Augusto, sua vida com toda literatura inerente e a criatividade que tem de recriar a própria vida, também me faz repensar pelo seu pensamento, mesmo sabendo que passamos, mas deixamos marcas históricas em nossa categoria de quem ensina e aprende, sempre na luta em sala de aula, entre amigos, semeando amizade com gente que aponta e nos diz: Professor! Sua vontade se junta a de muitos que têm o sonho acordado no coletivo pela dignidade. Pela poesia voamos alto com discernimento, a partir dos mais vulneráveis. Paz e bem! (Jonas Serafim).






PRÓLOGO 


...




BIOTEOGRAFIA


...





1 - UNIDADE DIVINA


Tudo é a Unidade

O nada não existe

O vazio não existe

O Todo é o que existe na Unidade

Somos células da Unidade Divina.

(Marco/2023)




2 - CAUSA IMATERIAL


 Desde cedo nos apegamos ao corpo

como criança somos sementes em tese

crescemos juntos com o pensar do germe

evoluímos num complexo composto.


 Da carne que somos, transcendemos

ressurgimos emergindo no tempo

passamos como passa o vento

vivemos como sementes perenes.


 Do apego para o desprendimento

com o desejo imaterial

eleva-se o pensamento.


 Do extranatural conexo ao afeto

pela serenidade empática

expande-se o ânimo.

(Março/23)




3 - VIDA CONCEBIDA 


Pela consciência aceitamos

a nossa vida concebida

com a liberdade.


Pelo sentimento olhamos

e alcançamos as estrelas 

molhando os pés na praia.


Pelo que somos

pensamos

e transcendemos. 

(Março/2023) 

 



4 - VIVER É UM ATO POLÍTICO


Viver é um ato político.

A vida é uma realidade dinâmica

repleta de desafios

no seu precurso histórico.

Muitos não têm onde reclinar a cabeça

ou o próprio chão onde pisa como

                         acolhimento.

Somos o que somos a cada dia,

na resistência e na luta

de um novo amanhecer

possível de fraternidade.

(Abril/2023)




5 - CHEGA UM TEMPO


‌ Chega um tempo em que você aprende

A amar diferente, pensar dissemelhante,

Falar moderadamente

Agir com mais cautela.


‌Chega um tempo em que o cansaço

Se refaz e  torna-se revigorado,

A leveza desperta veloz

O silêncio explode em sabedoria.

Chega um tempo em que se reflete profundamente

Caminha livre sem querer chegar

Chega no limite e continua a caminhar.


‌Chega um tempo em que tudo está consumado

O tempo não conta na convergência da Natureza

O Universo nos absorve em sua totalidade

(Maio/23)




6 - O SER HUMANO É TEMPO-ESPAÇO

 

‌Escrevo o que me fortalece e eterniza

no tempo-espaço do ser humano que sou,

ocupando-me na dimensão tridimensional,

útero-terra-transcendência.


‌O ser humano é tempo-espaço, meta-físico,

contração e mistério,

vida e fé,

ágape.


‌Experiência vivenciada, sentida agora,

sentimento partilhado,

esperança,

essência.


‌Transito numa linha elástica e sutil

com profundidade,

repleto,

inteiro.

(Maio/23)




7 - FÉ


‌O sentimento é vulcão que explode.

O pensamento respira explosão.


‌Eu penso e respiro uma causa coletiva.

Sou enfático demais nas expressões.


‌Do âmago escorre o magma fundante,

o sentido da essência humana.


‌Nada de bibliolatria.

Motivação: fé.

(Maio/23)




8 - CORAGEM


‌A estrada não tem fim.

Vá! Pode seguir em frente.

Coragem! Ânimo!

Tome a dicisão certa

E ouse caminhar sem medo.

No meio do caminho da vida

acontecem coisas estranhas.

 Às vezes, as pessoas não percebem

o tamanho do ponto inicial de um caos

que começa no percurso da vida.

É preciso coragem para enfrentar seu ego.

Ouse desconstruir o conhecido

com bravura e destemor.

Afoite-se! Encorage-se!

Atreva com proeza e confiança.

(Junho/23)




9 - UM PONTO


Um ponto central começa a crescer

e marca com um sinal cruzado

com mais um ícone transversal

formando um pequeno círculo

dentro da imagem tridimensional

inversamente proporcional

entre os pontos cardeais

tudo envolto a um grande círculo.

(Junho/23)

 



10 - ÁTOMOS TRANSCENDENTAIS 


Tem tanto conhecimento

que a gente tem que aprender.

E não temos tempo suficiente

para aprender tanta coisa.

Não vamos aprender todo conhecimento.

Existe um universo todo dentro de um átomo,

não damos conta de saber a sua totalidade.

Levamos conosco todo o sentimento

e algo de nós fica presente no universo.

Somos átomos transcendentais

como luz ardente em chamas.

Assim, estamos no universo terreno, 

como o oceano é outro universo na Terra,

no multiverso estamos como um ponto.

No nosso mundo

a democracia é a arte da política.

Na imensidão da transcendência

a espiritualidade é a essência da humanidade.

Na micro vida vibra energia quântica,

inteligência, consciência e sentido.

Na essência do ser, a fonte insaciável 

da sublimidade e da plenitude.

Como partículas subatômicas inter-relacionamos, ondulamos.

Sentimos a grandeza no invisível, ritualizamos,

refletimos na conectividade da ação holística.

Por crer, criamos. Revelamos. Eternizamos.

Somos luzes sensíveis, atraídas, cientes.

Somos pensamento vivos de uma gota infinita.

Na infinitude percebemos a magnitude.

(Julho/23)



11 - VIDA RESISTENTE


      Vida resistente.

És forte, firme e bela,

admiravelmente consagrada,

inigualável, única para ser plena.

     Vida integralmente,

patrona, ampla e soberana,

acolhedora de todo ecossistema,

abençoada, iluminada, inspiradora,

     matriz de sabedoria e maestria,

ensina a todos a viver na amizade,

ensina no seu tempo esperançoso,

     ser ousado e corajoso,

ser íntegro e amoroso.

ser melhor na convivência.

          A vida não é um luto.

É luta que reluta todo dia,

caminha na estrada construindo,

edificando a casa humanamente.

     Vida viva vivente.

É construtora em busca de paz.

Existe sendo criativa.

Compartilha a boa semente.

     Princípio da bela amizade.

Itinerante sempre em missão

sobre tensões sociais.

     Essência da existência em evolução,

fundante, ecumênica e sincrética,

itinerante para o horizonte pleno. 

(Julho/23)


12 - CÉU E TERRA


 Céu e Terra 

sagrada relação

alimenta e sustenta

descansa no Universo

com todo cuidado

revigora a vida

com sentido e direção

para a finalidade cósmica 

superando adversidade

com firmeza e confiança 

permanente na esperança

da relação consagrada

em abundância

e ação para o bem 

cumprindo a promessa

da eternidade.

(Julho/23)



13 - A PEDRA


‌A pedra no caminho expressa sentimento.

É algo enfático de sentido.

Não é qualquer coisa.

É princípio de tudo.

É semente de vida.

Flor pensante do vulcão.

É um acontecimento inesquecível.

É peso, leveza, firmeza, energia, segredo.

É matéria construtora.

Corpo primitivo.

É cálculo da natureza insistente no tempo.

Pedaço de minério da planta animal.

Camada terrestre contemplativa no universo.

Composição química sagrada.

Poeira.

Lápide.

(Julho/23) 




14 - O AMOR VENCERÁ


O amor vencerá sempre.

A amizade semeará sentido na vida.

O afeto fortalecerá as relações.

A empatia revigorará a união.

O conhecimento conduzirá para a liberdade.

A história contará a realidade autêntica.

O olhar da criança ensinará o bem.

A fraternidade unirá a justiça com a paz.

O companheirismo avivará a bondade.

A benevolência será a nossa finalidade.

 (Agosto/23)




15 - CONEXÃO MÍSTICA 


Ânimo imanente relevante da fé,

reconhece-me neste corpo,

na matéria natural,

nos seres existentes,

refaz-me renovo em Ágape,

como oferenda para viver,

no Ethos e no Eros,

na vibração de um mantra,

na dimensão imaginária,

na pele ecológica terrena,

sendo essência do oráculo,

no caminho transcendental,

na relação do esquilibrio,

na razão do coração.

(Agosto/23) 




16 -  INIMIGO


O inimigo é dissimulado

tem muita criatividade

envolve-se com calúnia

provoca toda maldade

é o grande adversário

criador da falsidade.

 

‌ O inimigo é um tentador

é um gênio da opressão

intimida, desune, mata,

rouba e causa destruição.

Conhecido por coisa-ruim

desde o tempo da Criação.

 

‌O inimigo é traiçoeiro

 e aflige com escravidão,

é nocivo para sociedade.

causador de toda opressão,

é a mentira e não a verdade,

Não é benção, é maldição.


(Agosto/23)



17 - 🙏🏿 MOSTEIRO 🙏🏿

‌Mosteiro, mistério, me sinto

Profundo, encoberto, admirável.

Meditante pelo claustro áfono,

Extático na mística do encanto.


‌Templo enigmático teísta

No alto da serra, o púlpito,

Proclama o canto das aves

Arrebata-me cúltico e eleva.


‌Santuário que abriga ritos

Revela relíquias, unge em silêncio

Acolhe-nos com inspiração.


‌Imagem semblântica da fé

Que abriga o ser pensante

E extasia a mente em devoção.


(Mosteiro dos Jesuitas - 27/08/2023)




18 - MEDITAÇÃO


‌Retiro-me

Esperançoso

Gratificante

Fortalecendo-me.


‌Reflexivo

Transcendente

Refaço-me

Pensativo.

Relacionando-me

Convivendo

Aprendo.


‌Concentracão

Humanizando

Meditação.

(Set/23)




19 - COMO SABER QUEM SOU


‌Como saber quem sou 

Sem ao menos me conhecer?

Se observo no outro tantos detalhes

e muito menos em mim?


‌A vida oferece escolha

Que a gente às vezes deixa na ilusão

Enquanto o tempo vai passando

Vive-se bem menos sem ter decisão.

O passado já ensinou bastante

Nos caminhos amargos e com muita dor

Mas a esperança que nos fortalece

Faz-nos resistentes e com mais fervor.

Nossa história sempre nos ensina

Que entre a guerra e a paz temos esperança

E unidos na luta da vida 

Seremos honrados pela confiança.


‌Só podemos saber quem somos

Sabendo de si pela união.

O saber que se faz unido

Une toda força na revolução.

(Set/23)




20 - VEJO


‌Vejo distante no horizonte

O espaço da vida crepuscular,

Um caminho infinito e escrito,

Um oásis entre as nuvens,

Um riacho de estrelas,

No brilho do sol sobre a trilha riscada no mar.


‌Vejo além as imagens transcendentais

Nos limites da admiração que revela sentido

A vida, a beleza, o saber, a poesia...

A fronteira e as possibilidades

O amanhecer na travessia que inspira o ser.


‌O encantamento da vida brilha no ar

Renasce em nossos inventos

Engrandece os instantes e os momentos

Em nossas pequenas atitudes.


‌Vejo a revelação da história no ciclo da vida

No curso da existência e no limite

No conhecimento que não se pode saber 

Na idade do eterno cósmico, é o sinal.


‌Vejo pessoas morrendo entre as guerras

Sem horizonte de ver um novo amanhã.

E a paz tão sonhada entre as nações

São desenhos utópicos de um cenário

Nos olhos das crianças que acenam um novo olhar.

(Setembro/2023)




21 - A BUSCA


‌Busco em mim uma revelação

A vida que respiro

Entre as contradições

A finalidade.


‌Encontro-me sempre em mim mesmo

Na finidade do meu ser

Saio de mim à procura do sujeito que sou

Externo-me na convivência.


‌Revelo-me em mim e em coro

Comigo está meu eu desconhecido

Dentro de minha essência, a luz.

A semente de uma árvore frutífera.


‌Sou o sentido além da existência 

O começo estendido nos confins

A descoberta do sentimento

A busca incessante do meu ser.

(Setembro/2023l




 22 - SONHO PLANETÁRIO 


Sonho com um mundo possível

Saciado de pão e de paz

Sem guerra e sem violência

Com gente amável e vivaz

Amantes da vida e da poesia

Com amizades verdadeiras

Criativas e confraternas

Solidárias e companheiras

Um sonho planetário

Ecológico, livre, sem fronteiras.

(Setembro/2023)




23 - VOX ET LEX


"Cogito, ergo sum" et sentio.

Salutatio!

Corpus meum,

lux veritatis, 

semper fidelis,

honoris causa,

vita reali,

in vita populi,

in vita Dei.

Hic vox et lex:

Fraternitas et iustitia socialis

cun bona fide,

cun caritate et benignitate.

Pax et bonum!


(Setembro/2023)




24 - CORES 


Branca verdade da paz

unida a igualdade lilás

com o azul celeste da sabedoria

envolve-se no verde florestal da esperança

no amarelo da criatividade

e na alegria das lanranjas

encontra-se a vermelhidão do amor

e com a síntese do preto da elegância e do respeito. 


(Setembro/2023)




25 - CASULO


Casulo

Guarda-me na tua esperança.

Cuida e Protege a vida.

Envolve-me em tua beleza.

Que neste invólucro eu reconstrua meu ser.

(Setembro/2023)



26 - VOZ ECOANTE 


* Sou o ar e o líquido da terra ensolarada,

sou sem ser silêncio, sendo uma voz ecoante

com outras vozes na praça.


* Sou o corpo que pergunta, fala e sente.

Sou uma música ou uma pequena semente

vociferando no meio de muita gente.


* Tenho um tempo para o mundo que não é só para mim,

vou aprendendo com as pessoas,

com os livros, com a natureza,

e penso como ser melhor 

convivendo com as indiferenças,

tantas crenças,

e com tantas falácias.


* Minha voz presa e sufocada

quer falar o amor maior,

quer dizer o sentimento de ser livre, ter a voz e a vez,

ir além do trivial.


* Escrevo os poemas independentes e fora dos padrões,

versos livres com língua afiada sobre o que escuto, 

e ouvindo os desabafos,

ouso dizer que se muda quando aprende,

e aprende quando ensina.


* Sei que o pensamento faz o corpo sentir

e falar com o Sagrado

é falar consigo mesmo.

Viver de fato não é só existir.

Viver faz pensar.

O corpo me pergunta. 


* Sou o hálito profundo da minha existência 

sem levar nada.

Não tire de mim a cor do som.

Eu sou meu próprio alento.


* Depois do fôlego 

ainda existe vida, acredite.

Não morre a última palavra 

que respira aos quatro ventos na imensidão

pelo afeto natural.


* Não sou além de um ser humano

e sendo já não sou muito.

Sou um sopro complexo

e nada mais.


(Setembro/2023)




27 -  CONTEMPLAÇÃO

 

A contemplação

no imenso universo

refaz o nosso ser,

reúne ao princípio.

 

Em adoração

contemplo o que vivo,

reflito numa flor

a presença do espírito.

 

A nossa Criação,

semente de origem,

em nossa existência,

floresce em nosso ser.

 

Vivemos como luzes,

com o gosto da matéria,

na Terra sob o sol,

admirando o ocaso.

 



28 - SENTIDO HUMANO 

 

Meu coração sente uma vontade brigando com a razão,

escolhe coisas impossíveis imaginando como simples.

Sinto a sede dos impulsos

entre as pessoas e a minha pele.

 

O meu espaço é bem amplo na própria finitude,

e como um grão acolho o teu universo para uma viagem plena.

Oráculo! Constelações! Ninfas guardiãs!

Vivifica a vida.

 

Ando no tempo poético

na rotina da realidade que fere,

que me faz repensar, que me sacode pro alto.

E no tempo perdido escrevo

a canção amante e tento desvelar o sentido humano.

 

O mundo não é a gente, se não apenas enquanto vivemos.

E a essência de nossa vida não é simplesmente viver.

Somos uma caravana

e o sentido humano estar na passagem de conviver.

 

A minha vida transcende o meu espaço 

e o pensamento alheio tenta me julgar 

falando coisas ao vento,

mas a boa poesia me inspira para outro lugar além-mar.

Não tenho como ficar ouvindo pseudos monólogos.

 

O que sou consiste em estar sendo no simples convívio,

no sentido humano de ser sempre bem melhor,

mas as crueldades, as desigualdades e injustiças,

me transportam e transformam o meu grito,

sobre o sentido da vida que foi transgredido.

 

O meu viver é dialético,

no que sinto em vida com os outros sentidos,

vida, terra, sopro…

 

O tempo cuidará de nós 

e o nosso ser desvelará,

na mais forte e bela afeição,

no rosto do sentido humano.

 

(Setembro/2023)




29 - NADA

 

Nada, não amanhece,

não existe, é vazio de sentido,

não tem tempo nem espaço.

Onde pode estar o nada?

Cadê o nada? Como desfaço?

 

Nada, não consta na natureza,

em lugar nenhum se encontra.

Indefinido, ausente, invisível.

O não ser. O inexistente.

Sem nenhuma localização.

 

Nada nem é uma contraposição.

Não se imagina, nem nada é.

Não se sabe nem pode saber.

 

Com os olhos fechados, oculta visão;

profundo infinito, imensidão;

algo possível, uma idéia, ilusão;

mas, nada, é nada não.

 

Nada não é nem mesmo a morte

que é uma transformação natural.

Nada, nem é também negação.

Nada, nem é um simples não. Nada, é nada.

 

(Outubro/2023)




30 - MÍSTICA E MATÉRIA

 

Sentindo na carne do meu ser

encontro novas epidermes

em rostos grafados nas ruas

ultrapassando as luzes.

 

Pensando com a Terra

na longa sobrevivência

unindo mística e matéria

vislumbramos a imanência.

 

Transcendendo a realidade.

do que sinto, penso e vivo,

vou no caminho da certeza

mesmo sabendo que duvido.

 

(Setembro/2023)

 

 

 

31 - AUTO NASCIMENTO

 

Não vou fazer poesia para agradar

ou escrever um livro só por gosto popular.

No outdoor estava escrito em grafite:

nos arrancam tudo e nos chamam de contribuintes.

Luto por um mundo possível

sabendo que a luta é de resistência

e nem tudo permanece

e as coisas mudam.

 

O que você faz e pensa

e sempre te sacia?

Ainda não sabe?

Pois tem gente pensando por você

enquanto dorme.

 

Das ideias vêm a paz ou a guerra.

Por isso é preciso pensar bem.

E o que temos nas mãos

se ergue junto com a voz.

 

Às vezes vejo transeuntes alheios,

nas ruas pessoas vulneráveis,

as escolas sem novidade.

A cidade corre e dorme

e repete a mesma rotina

sem sentir o som de si mesma.

Tento inovar o costume,

discernindo os desafios ortodoxos,

enquanto vivo.

 

O tempo passa muito rápido,

um resto sobrevive,

outros não sei como vivem.

A esperança que também morre

não espera a morte.

A dor está na pele.

 

O amor é outra forma de dor

que os viventes sentem

e entre a paixão e a razão

todos são sobreviventes.

de uma sobrevida,

um auto nascimento

 

As nossas vidas não são nossas.

Elas são da Terra.

Não se iludam

com os trabalhos precários.

Não diga que tudo está perdido.

Persevere lutando,

a luta muda a vida.

O caminho nós construímos.

 

Cada um decide por si mesmo,

não o que passou;

o coletivo marca o porvir.

 

A virtualidade faz dormir

e a realidade desperta do sono.

Até quando

seremos servos

de uma elite tirana?

 

Apesar da dor, ame.

Sinta a voz do coração

renascendo como flor,

emergindo do asfalto quente.

Mesmo com a rejeição,

renasça! Ressuscite!

 

(Outubro/2023)

 

 

 

32 - FERMENTO NA MASSA

 

Somos como sementes

semeadas na Terra para florescer,

virarmos árvores frutíferas em cada amanhecer,

e com o passar do tempo vamos transcender.

Seremos poeira cósmica noutro viver.

 

A vida cotidiana é cheia de possibilidades

e o caminho a seguir convida para a liberdade.

A estrada da vida estende-se ao horizonte

e se expande entre diversos conhecimentos.

Podemos mudar a realidade de amanhã

O pretérito servirá para ensinar o coletivo

a saber como seguir nos ventos impetuosos.

 

A história que passou será como semente

e como fermento na massa crescerá.

 

Temos muito o que fazer além da poesia

e a arte vai inspirar a vida.

Como pássaro relutante contra as gaiolas vis

devemos renascer no novo ser itinerante,

na práxis de Patativa que canta:

"É melhor escrever errado a coisa certa

do que escrever certo a coisa errada"

Assim, o canto da vida terá encanto e brilho.

 

(Outubro/2023)

 

 33 - LAPSO

Alheamento

Ausência

Confusão

 

Descuido

Deslize

Desvio

Distração

 

Engano

Equívoco

Erro

Espaço

 

Falha

Falta

Gafe

 

Hiato

Ínterim

Interrupção

Intervalo

 

Lacuna

Lapso

 

Parêntese

Pausa

Período

 

Vácuo

Vírgula

 

(Outubro/2023)




34 - O TEMPO NÃO VOLTA

 

O tempo não volta para nos salvar do espaço

que ocupamos como sementes evolutivas

que rompemos na molécula da matéria ativa

desgastando-nos no próprio oxigênio

como predadores terrestres

guerreando uns contra os outros.

 

Desperdiçamos sem noção por conta egocêntrica,

pensando num status, na arrogância narcisista,

causando guerras.

 

A vida não é para ser destruída.

Há uma sobrevida além dos ventos.

(Novembro/2023)

 

 


35 - SOBREVIVER

 

Como o tempo anda com a gente,

encontrei algumas tempestades,

semeei notícias que o vento levou

e as pedras urbanas sufocaram.

O casamento bateu em minha porta

e junto com o trabalho era o meu estudo.

Estudar veio depois. A luta era sobreviver.

Sobreviver com luta, leitura, poesia e fé.

Tantos poemas escritos que fiz e faço

sobre o papel e o chão de sangue da cidade,

como os versos revolucionário de Bertolt

e a ousadia das pinturas do amor de  Frida.

Tantos lugares que não conheço e lá quero chegar

para sentir o ar da paisagem como um beijo,

enamorar à noite no jardim do corpo,

e tocar o ponto mais sagrado de tudo.

Abraço apertado em cada braço aberto,

em sentimentos indiferentes desejo o melhor,

apesar da fome e das guerras entre as nações,

apesar do espírito neoliberal.

O que o tempo me diz senão sobreviver,

e ainda ter que negociar com a elite que oprime?

Verás que uma professora não foge à luta

e assim canta Clara Nunes, Rita Lee, Bethânia, Leci…

Agora um neopentecostalismo patriótico

pregando como parlamentar da nação,

andando com maquineta e Bíblia,

precipitando sobre os afastados.

As famílias levam os dilemas pras escolas

e os freireanos fazem a interlocução dialógica.

Enquanto isso o feminicídio e a homofobia

aumentam, como as queimadas na Amazônia.


(Novembro/2023)




36 - ANDO COM AS PLANTAS

 

Quando vejo crianças das ruas chorando

lacrimejo no peito o lamento oprimido

por serem esquecidos nos guetos urbanos

e ninguém atende o seu choro e o seu grito.

Quando me vejo entre amigos realizados

celebrando a vida em família com alegria,

reflito em conjunto os conflitos sociais,

mastigo, e  tantos sem comer uma bóia fria.

Vejo o tempo passar e muitos passam como vento.

O mal é sempre uma questão mais profunda,

gritante no interior da realidade insana.

Enquanto a paz e a felicidade não chegam

ando também com as plantas que conversam

e nos canteiros entre os carros, versejam. 


(Dezembro/2023)


 

  37 - MORO EM MIM

 

Moro em mim como a Terra na Via Láctea,

enraizado em Pindorama da América do Sul,

vivendo entre urbanos da miscigenação,

 compartilhando Instagram.

 

E nos poucos abraços, um verso triste.

 

O instante contente, o clímax.

 

O corpo pede uma sombra, um oásis.

 

Meu habitat simboliza o mundo

incluindo o céu, o seu, os coletivos.

 

Em minha morada, oráculo de mim mesmo,

ressurge a utopia da profundidade do eu em nós.

 

E das raízes de nossa gens nativa,

Márcia Kambeba aclama:

“Os filhos das águas dos Solimões”.


(Dezembro/2023)




38 - GOTAS E GRÃOS

 

Meus pensamentos flutuantes sonham

com a visão estelar cósmica terral,

raciocina a vida como folhas ao extremo,

frutifica afeto transcendental.

 

Nosso ser vivente em mística respira,

historifica no mundo um sentido,

evolui e deixa muitos caminhos,

seguindo adiante rumo ao desconhecido.

 

O mundo criado e reinventado

passa com as vidas vindas e idas,

e vai de forma contínua no infinito,

ininterruptamente reconstruindo.

 

Além, vai meditante versos,

esvoaçando entre as estrelas,

entre gotas e grãos de areia,

vívidos, translúcidos, retornando ao princípio.

 

(Dezembro/2023)



39 - CARNE VEGETAL TERRENA

 

Uma luz amanheceu em minha vida

e no anoitecer cresci não de repente.

No pulsar dos ciclos solares

algumas metamorfoses.

 

Para onde vamos?

O caminho que seguimos para onde nos levará?

Que dimensão encontraremos na meta-história?

Como e em que portal entraremos?

 

O que queremos é uma possibilidade.

O mundo é uma passagem.

O sol também é limitado.

O instante vivido é a eternidade.

 

Como pode existir tanta violência,

guerras, fome, desflorestamento?…

Como não aprender com os animais?

É preciso renascermos humanos.

 

Por que nascer um coração de pedra?

Não será a vida humana uma porção da Terra?

O erro desumano está em não ser humano.

Humanize-se! Refloreste-se! Cordialeze!

 

Não se separe da carne vegetal terrena,

sabendo que o paraíso ilumina no coração,

e a natureza ensina o caminho a seguir,

realizando o ser em sua grandeza original.

 

(Dezembro/2023)



40 - NOVO AMANHÃ

 

Sou peregrino de um caminho contínuo

onde os passos deixam marcas na rocha

e o agora precisa reconstruir o novo amanhã.

 

Quantos já passaram e não viveram

o sentido elevado humanizante,

e o que existe é vital para florescer.

 

Em cada pessoa uma esperança viva,

em cada casa uma luz para brilhar,

em cada olhar uma história contemplativa,

e no caminho o reflexo de cada um.

 

O horizonte nos aponta um sinal

com um canto inovador que questiona:

como será o amanhã dos nossos filhos?

 

Em cada amanhecer os desafios,

as carências de tantos corações,

as notícias das guerras infindáveis,

mas a vida vencerá!

 

A união entre as nações é uma utopia,

e ser fraterno e solidário é a saída.

É preciso ir além da imaginação.

É preciso atitude de paz.

 

O caminho da vida é longo

e cada um faz a sua travessia no seu tempo

e assim estamos em movimento.

 

O novo amanhã já começou hoje,

cabe a nós pintar a tela do dia

e o habitat do jardim planetário

de novo amanhecerá.

 

(Prainha. - Aquiraz. 27 graus. 31/12/2023)

 

 

41 - FATOS VELADOS

 

A voz que sai pela escrita

não deixa de sangrar a tinta viva

de fatos velados nas doutrinas,

e por não me calar indignado,

resisto e reluto permanente,

convivendo sóbrio, mas descontente,

entre sócios ébrios e astutos do ópio.

 

A fala ecoante exilada,

sofrida na carne marginalizada,

oprimida no estigma da história,

encontra-se a beira da estrada,

revoltando-se contra a ideia alienada,

no martírio dos contestados,

subsistindo com direitos sonegados.

 

O clamor ressoante e ressurgente

ocupa os despertos conscientes,

revela aos desvalidos penitentes,

os ventos fortes tempestuosos,

e um novo sentimento atencioso,

refaz-se renovante e vai avante,

eclode e arrebenta o pensamento.

 

(Janeiro/2024)

 

 

42 - RETORNO

 

Terra diz agora

a tua resposta

deste progresso

sei que não gosta

por ser retrocesso

e não renascença

por isso reage

revida, reinventa.

 

Gaia, Orbe, Adamah

Habitat humano

revolta, mas volta

vem renovando

re-úne a humanidade

refaz-nos húmus

gens amáveis

todos inclusos.

 

Ressurge mundo

reaparece pronto

como semente

que faz estrondo

que se reconstrói

reveste-se de novo

exige respeito

para todo o povo

 

Um portal se abre

para o amanhecer

vislumbra-se um véu

que nos faz reler

pela gratidão

e afeto como adorno

tudo com afeição

um possível retorno.

 

(Janeiro/2024)



43 - CAUSA DOS OPRIMIDOS (sentido vital)

 

Quando discerni pra vida

numa manhã esquecida

procurei acordado caminhar

ao encontro de um horizonte

mesmo entre olhares indiferentes

que sempre tentam fazer a vida ruir

e apesar de alguns desencantos

tenho um princípio de luta

no sonho da causa dos oprimidos

com firmeza permanente

sem desistir e sendo resistente

por ser motivado na dignidade

sendo paciente em cada dia

sabendo dos afetos da diversidade

e como na noite de tantas luas

percebo mais um dia no porvir

que vai anunciando a dinâmica da vida

em cada nascimento existente

como o ar audaz vivente e essencial

entre nós transeuntes que me faz enxergar

o sentido vital que nos movimenta.

 

(Fevereiro/2024)

 


44 - GRATIDÃO

 

Reluto na vida contra inimigos

por causa de um sonho livre

reflito sobre tudo o que existe

vendo no racional o maior perigo.

 

O sofrimento é uma grande prisão

legitimado por tantos poderosos.

Gente com atos tenebrosos

que criam guerras e solidão

 

O amanhã do chão romperá

com a verdade ecoante no ar

no tempo recriado pelo perdão.

 

Vejo na paz uma pequena semente

com a força do ser resistente

com a grandeza viva da gratidão.

 

(Fevereiro/2024)



45 - CHÃO, FLOR, SOM

 

Chão, flor, som,

voz, eco, sol.

Ilumina a vida fértil e sublime.

 

Clareia o nosso horizonte,

desvenda e afeta,

define a verdade

com a luz da liberdade sensível.

 

Emerge e reconduz o vento

nos pensamentos serenos imersos na fraternidade.

 

Envolve e inspira o advento do novo caminho

semeando as flores na terra

fazendo renascer o ânimo em cada ser vivente.

 

Semente benéfica, rebento do solo,

esboço marcado na pele sentida,

remexe a Terra e os astros do firmamento,

ventila rajada da recriação.

 

Raios solares, farol!

Guiai a sonda da consciência terrena.

 

(Janeiro/2024)



46 - ONIPOTENTE

 

Ó onipotente,

Deus, bendito!

E acredito em tua plenitude,

e na gratuidade.

Em silêncio escuto tua voz revelada

que ensina a cordialidade.

Esplêndida Terra que nos acolhe,

sol que nos ilumina,

mar de imensa mística,

inunda-nos

de total serenidade.

Enigmática e bela presença,

és o sacro mistério,

refaz-nos no próximo arco-íris,

ou na chuva que virá.

Pela floresta nos conduz

e nos ensina a reflorestar.

Anima-nos no barro original

no amor maior.

Onipresente e cônscio de tudo,

Sábia luz,

Ó eterna divindade,

ocupa-nos com a tua mente.

 

(Janeiro/2024)


 

47 - CONVIVER

 

Como conviver

se não quiser mesmo reaprender

compartilhar o amor

confraternizar

e ser solidário

com todo acolhimento?

 

Coexistimos na convivência

com as nossas conversas

nas relações coabitadas,

no imaginário social popular,

na arte viva

que transforma o ser por dentro.

 

Somos terra,

sementes vivas pulsantes,

os mais novos sobreviventes,

e conviver

exige muito cuidado

como flor emergente.

 

Nossa história é nosso paradoxo,

racional e demente,

contínua e repetente,

com uma vasta tecnologia,

técnica e ruína,

ainda insensível à natureza.

 

Cada desejo humano

precisa ser altruísta,

ser empático e desapegado,

ser irmanado,

nutrir-se do bem,

precisa mesmo renascer.

 

(Janeiro/2024)

 


48 - FRAQUEZA FORTE

 

Numa inspiração heterodoxa,

no contraponto do caminho,

encontro uma fraqueza forte

que sopra com fervor

uma faísca em centelha de lampejos

como uma musa em sinfonia

e com entusiasmo ilumina-me

e estimula minha motivação

com viveza e alento,

com desapego e despretensão.

Tanta ação, tenta ação.

Despreocupe-se! Ocupe-se!

Abnegue-se com bravura,

com desambição,

sem ânsia, dúvida ou impulso.

Na indecisão ou na incerteza,

alente-se sem ímpeto

com a generosidade,

com a empatia bem determinada.

Sinta-se sensível na liberdade.

Autêntico, seguro e disposto.

Sinta-se no ócio.

 

(Fevereiro/2024)



49 - SENTIDO DOS GESTOS 


O significado/sentido dos gestos

da natureza e dos humanos,

no imaginário da linguagem e do sentimento,

toca com profundidade 

a terra aquática vegetral carnal.


O sinal acena a coragem para desnudar-se;

arriscar-se no tempo-espaço;

aventurar-se como a luz

que invade a mata, as casas e os corações.

Sem precisar escrever.

Só fazer. 


Os descaminhos da vida podem 

se transformar no caminho,

em contramão aos preconceitos

- posto que tudo está em movimento - 

como andar na escuridão da noite

e perceber as estrelas como bússolas. 


(Fevereito/2024)



50 - ESPAÇO-HABITAT


Como um navio em alto mar 

flutuo na trajetória do horizonte,

atravesso as tempestades navegantes,

intento com os meus monstros a lutar.


Espectros do meu abismo,

reluto, restauro-me, refaço;

como um terrestre ser náutico,

em vasta vereda peregrino.


Recriando novos ciclos mutantes 

no envolvimento de nuvens relutantes,

escuto o canto eólico na chuva.


 Eis o espaço-habitat, o meu abrigo,

o mundo amplo, e eu, um ser pequenino,

no mar social sem ternura.


(Feveriro/2024)



51 - SÍNTESE

 

No princípio eu me inspirava na ingenuidade

mas isto me causou uma grande imaturidade

encontrei um mundo criado e bem abençoado

parecia até que nada havia sido colonizado

e entendendo pelo tempo de convivência

comecei a enxergar e discernir com consciência.

 

Durante muito tempo no processo evolutivo

fui crescendo e refletindo com o jeito pensativo

questionando o sentido que a vida nos ensina

descobrindo um caminho que a natureza prima

e reconstruindo o roteiro na dinâmica da história

vou seguindo na dialética da minha trajetória.

 

No limite da vida outra dimensão é apresentada

questionar agora se serve pela gratidão que fala

e a finalidade da vida traz o epílogo em síntese

que anuncia o novo tempo possível e humanize

e ao chegar o amanhecer do ciclo da existência

encontra-se a convergência no ponto da essência.

 

(Fevereiro/2024)



52 - UM NOVO CANTO

 

Rompi doutrinas

entoei um novo canto

rasguei versos obsoletos

e segui meu caminho.

Saí de mim mesmo

enfrentei o mundo

sabendo dos perigos

falei e falo o que penso

gritei para o alto

buscando seguir meu objetivo

apesar das indiferenças.

Me arrisquei passando sobre pontes

e fui iludido

no amor e na política.

Pensei sobre os descaminhos

mas sobrevivi até aqui.

Morri para não morrer na guerra.

Morri de amor.

Aprendi a viver com o perdão

Sei que é bem melhor

ser pela gratidão.

Andei pelas pedras

observei o caminho a frente

e nos passos adiante

deparei com desafios complexos.

Senti a empatia

em cada transeunte anônimo

e procurei o rosto sagrado.

No tempo vivido encontrei amigos

e cuido do jardim.

Os contratempos vêm

mas é preciso continuar a caminhada.

Pensei ir além do contexto histórico

atravessando os limites das fronteiras

resistindo a dura realidade

em meio a tempos tenebrosos.

Sei que a vida é bem dinâmica

e ensina com paciência.

O que o vento levou

e não podemos mudar

permite olhar o que vem adiante

e todos seremos convocados

e o desfecho será nosso.

 

(Fevereiro/2024)



53 - CULTURA URBANA 

 

As ideias estão cada vez mais velozes

e a cultura urbana banalizada.

Da boca sai um ruído enfadonho com fumaça 

de pessoas que não querem saber de política.

Outros abandonaram a militância

preferindo a zona de conforto.

Alguns lutam e resistem nas ruas

e feridos seguem firmes de cabeça erguida.

Reflito sobre tanta subalternidade social

e vejo o sentido da vida na construção da dignidade.

A natureza aponta sinais e nos questiona:

Como vamos dignificar a humanidade? 

 

São tantas as informações pela mídia,

pelas redes digitais a oferta de um mundo virtual.

O ideal na realidade está nas ruas com os famintos.

Os muros nos revelam as frases de desordem

com olhares julgadores de pedestres.

Não vejo os ideais fora dos sujeitos históricos.

Noto que o progresso é destruidor 

Sinto que o momento é de acolher os desamparados.

Não dá mais para continuar com desamor.

 

Vamos adiante. O caminho está à nossa frente.

Encontrei muitos cascalhos e espinhos.

Os protestos alertam e ecoam nas praças 

Vamos adiante. Nossa união é indispensável.

Temos uma tarefa e uma missão neste mundo.

Nossa vida não está mais afável.

 

(Fevereiro/2024)

 


54 - TRANSPARÊNCIA

 

No mundo em que vivo vive a transparência,

mas eletrônicos virtuais trazem intrusa frequência.

Disparam fogos em cada ano novo,

sem querer saber do renascimento preciso,

e só me reconhecem por um registro ou um visto.

Sigo na contramão de tantas doutrinas,

instauro meu caminho e ando com a comunidade.

A natureza tem protestado em todas as nações,

enquanto os dormentes vivem alheios

debochando dos que lutam contra os grilhões.

Vou adiante na base com os vulneráveis

translúcido, consciente e com nitidez.

Reinvento o dia sem esperar acontecer

e em cada ser percebo um pouco de tudo,

sabendo que no fim ficamos desnudos.

Enquanto respiro translado no amor

em minha ânsia de alegria e dor.

Sinto agraciado pela serenidade

ocupando o corpo íntegro com a natureza,

fazendo meus passos mesmo sem ter certeza.

Sou uma semente como um grão de areia

incumbido em transbordar como uma gota,

convocado a brilhar entre as fronteiras,

vislumbrando um horizonte afável,

onde a justiça e a paz sejam companheiras.

 

(Fevereiro/2024)

 


55 - SHALOM! VIDA!

 

Na história humana, às vezes insana,

das catacumbas relembradas,

viaja o pensamento em chamas

e ainda se escuta a voz trêmula,

sob o trabalho terceirizado,

dominado e aburguesado.

Apesar da insanidade,

vem no asfalto a folia do carnaval.

Anawê! Axé! Namastê!

Shalom! Vida!

 

Da racionalidade veio a tirania.

Veja a ironia. A vida sendo vazia.

Na rotina da modernidade

vejo templo em cada esquina.

Diversidade de divindades.

Nas calçadas ficam os famintos

sob os olhos da injustiça.

E cada dia advindo

na dor e no canto:

Shalom! Vida!

 

A dor social sangra

nas margens do lixo e da lama.

Nos rios escorrem a indústria

que desemboca no mar.

Do mar vem o pescador cantor

que alimenta os filhos.

A noite a cidade dorme

entre tantos com fome.

No amanhecer o sol acorda.

Shalom! Vida!

 

Ouvindo os pássaros matutinos

no compasso da liberdade

fazendo o ensaio da amizade

com o batuque do samba Brasil.

Em cada criança sorrindo

sente a esperança ouvindo

trazendo o vento da paz.

Do ventre da terra aflora a justiça

no imenso terreiro criador.

Shalom! Vida!

 

A terra sacode a poeira

e eleva ao céu sobre o oceano.

Desce os trovões com os tambores

de lado com os seus amores.

Reluz um imenso clarão

da lua-mãe companheira

abrigando os filhos seus

em coro clamando viva!

A paz é o único caminho.

Anawê! Axé! Namastê! Shalom! Vida!

 

(Fevereiro/2024)

 


 56 - UMA ESPERANÇA NA TERRA

 

Passando pela opressão da distopia,

descrevi um conhecimento utópico,

vendo o que os velhos colonos faziam,

constatei num ponto um diagnóstico,

lendo os resquícios dos que não morriam,

vi nos nativos um protótipo,

resistentes refazendo a história

manifestando hoje em sua memória.

 

Percebi o crime de genocídio

sobre autóctones escravizados,

a vida aborígene destruída,

na terra sendo tudo queimado,

o sonho de um próspero paraíso,

com o povo africano subjugado,

li em Frei Bartolomé de Las Casas,

o massacre que hoje vejo em Gaza.

 

Além dos desafios territoriais

encontra-se também o racismo,

vejo a destruição dos vegetais

e a invasão do capitalismo,

as desigualdades sociais

e o vil poder mortal do machismo…

Apesar do desespero da guerra,

Existe uma esperança na terra.

 

(Março/2024)



57 - FORÇA ORIGINAL (Sopro Vital)


Temos o mesmo chão comum,

mas para onde vamos?

Para que serve tanta riqueza

quando há milhões de famintos?

O que somos senão um sopro

diante da imensidade?

Os poemas escritos não são frutos

de fatos verídicos?

O tempo vivido não é o ser vivente

em culminância cósmica?

Percebe-se no ciclo astral

as vicissitudes e o equilíbrio.

Cada passo dado traça o caminho

que converge para o mesmo ponto.

Em cada canto do mundo e do imaginário

está a presença viva da força original.

Todos os sons existentes no universo ecoam:

Ânimo! Sopro vital!

Quem somos nós, afinal?

Qual o verdadeiro sentido de ser?

Nosso corpo ocupa o espaço no tempo

sinalizando nossa existência

como humanos em processo de sobrevivência.

Vidas que se foram sem ser vividas,

sem honra e sem um verdadeiro abraço,

atropeladas pela injustiça,

acolhidas apenas no chão de sangue.

Sangue que germina nova vida

que apela e clama por ser oprimida.

E da voz popular aguerrida

se abre um caminho emergente,

vocifera um canto de um amanhecer pela paz.

 

(Março/2024)

 

 

58 - PÃO E PAZ

 

Enquanto estou vivendo

o respiro vai expirando

a terra, o ar e o mar, ensolarando

amar amando

o cheiro cheirando

o verde queimando

a luz iluminando

o jornal sangrando…

 

Desde o princípio não era assim

desde Caim ficou ruim.

 

Vivemos em conexão

moramos no mesmo chão

avançamos ao fundo do oceano

e no espaço infinito

muito pouco na interioridade.

 

O que adoramos?

duvidamos

esperançamos

ritualizamos

encantamos

inventamos o saber saboreando.

Que sabor falta ser provado?

 

Autorrealizamos em vida.

Matamos e abençoamos.

 

De qual encanto precisamos?

Por que está lendo agora?

O agora é uma mutação

entre o céu e a terra.

 

Enquanto o humano se esvai

a matéria se encontra com a subjetividade

e se confundem.

 

Vamos de encontro ao firmamento imensurável.

Uma visão real paira ao vento

vagueia flutuante a mente

com asas do sentimento

seguindo a voz da luz

consciente vai avante

na busca do conhecimento

do pão e da paz

integral alimento

antítese da guerra

e o cenário entristece

pelo genocídio

desumana maldade

do racional vem o mal

vem as armas

assim não somos melhores

somos inimigos.

 

Sol de todos

clareia a cegueira bélica

cuida dos lamentos famintos

refaz o barro humano

olha a fumaça da pólvora

limpa o coração algoz

imagem da crueldade

que impede a subsistência

dos famintos que sem força

só tem o chão

e as lágrimas do coração

sem pão e sem paz

entre guerras frias e explosivas

pedaços de corpos

clama a vida. 


(Março/2024)



59 - SAPIÊNCIA

 

Vejo na correria dos acontecimentos,

no espaço dos mapas e no corpo do tempo,

explosões letais de vultoso extermínio,

e simultâneos nascimentos,

luzes emergentes que acendem a essência da chama.

 

A sabedoria chegará como o sol

e caminhará entre os olhares dos transeuntes.

O Princípio virá para uma nova Gênesis.

As partes do Todo regenascerão

como sementes espalhadas numa plantação.

 

Das florestas sairá um novo rebento

com a força de sua própria ciência

e um canto inaudito será bendito

e se fará conhecer pelo vigor da sapiência.

 

De tudo já visto na visão do horizonte,

estende-se a existência na extensão dos momentos,

acende o fogo do conhecimento,

renasce das cinzas a inovação,

entre a terra e o céu, inédita dimensão.

 

Vendo a amplidão da generosidade,

apesar da ultrajante malignidade,

segue a correção pela via humanística,

com o sentido entendido pelo cuidado,

com aproximação e afeto ponderado.

 

Por tudo vivido e a respirar,

fortalece a vida em cada amanhecer,

por cada partícula em cada ser,

por saber e sentir em se consagrar.

 

(Sábado de Aleluia - 30/03/2024)


 

60 - ARMAS

 

Armas sinalizam mortes

da brutalidade desumana,

do mórbido império desprezível,

de uma devastação insana.

Ícone de um suplício

da lógica da matança.

Desarmem-se! É o grito da paz!

Cessem com tudo que a arma faz.

 

Armas da mão genocida que explodem nações,

erguem-se violentamente guerras, bombas, canhões.

Imensa explosão!

Derruba e arrasta tudo o que está à frente;

desrespeita e mata até a última semente.

Carnificina! Imolação!

 

Não se arme. Ame! Defronte a demência,

demasia, loucura, paranoia ou fúria,

relute e resista pela ternura,

ressignifique tudo na convivência.

 

(Março/2024)



61 - BANDEIRA BRANCA

 

Bandeira branca!

 

Bandeira branca para a humanidade!

Basta com tantas mortes!

Como pode um ser humano ser fratricida?

Chega de invadir as terras;

de conflitos armados;

de tantos países em guerra;

de trabalho escravo.

Em nome da paz:

Não à guerra!

Peço bandeira branca.

 

Basta de política insana!

Parem de privatizar a água!

Acabem com a miséria

e com a contaminação agrotóxica.

Terminem com a violência!

Parem de guerra!

Chega de matar mulheres, crianças…

Onde está a esperança?

A Terra clama:

Bandeira branca!

 

“Fraternidade sim, violência não!”

Imagine não existir religião.

O essencial é fazer o bem.

Armas! Desarmem-se!

Tiranos! Desarmem-se!

Desarmados, amem-se!

Amados, irmanados, uni-vos!

Nações em desgovernança:

justiça e paz!

Bandeira branca!

 

(Março/2024)

 


62 - VIDA PLENA

 

Sou terra que refaz a humanidade

e eleva a poeira para o espaço.

Sou líquido quente em movimento

que inunda o pensamento.

Sou visível, subjetivo, místico,

que transcende a matéria.

Sou o som natural das imagens

no horizonte das ideias.

Sou um caminho a seguir

entre as pedras de outros caminhos.

 

As aves que se alimentam das flores

povoam o ambiente humano.

O mar com a sua imensidão

avança sobre nossa ignorância.

Os lugares intocáveis

como a luz penetrante

revelam uma verdade

que exige autenticidade.

O que somos na vida terrena

merece ser em vida plena.

 

(Março/2024)



63 - IRMANDADE

 

Meu pensamento flutua

e segue veloz inconsciente,

vai instintivo até na noite,

baila rotativamente,

sente o sangue das notícias,

entre sonhos e fatos reais,

que não muda em nada,

e parece que nada é demais.

 

Quando vejo os transeuntes

passando pela cidade

esquivando uns dos outros

mudando os seus olhares,

não sinto aproximação,

mas percebo a carência,

escuto muito barulho,

uma sociedade em falência.

 

Sabendo dessa vida corrida

com tanta agitação

cada um quer vender seu peixe

não importa o amanhã, não.

O ônibus, uma lata de sardinha,

e todo dia, um mundo de crueldade.

Penso qu’isso não será pra sempre.

Será que viveremos em fraternidade?

 

Não sei se um dia seremos fraternos,

e quiçá, haverá uma terra sem males.

Posso pressentir uma boa nova

e ver o verde com o voo das aves.

Ainda estamos distantes da paz

e da verdadeira liberdade.

Vivo cada dia com uma urgência

em busca da autêntica irmandade.

 

(Março/2024)



64 -