" ESCREVER É PRECISO "

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

EREMITA


CAPÍTULO 1 – EREMITA

Eremita era uma mulher consagrada ao trabalho missionário em favor dos pobres oprimidos, professora atuante na cidade de Fortaleza, capital do Ceará. Pessoa de fé consciente, racional, de luta e de festa. Centrada na missão com os mais necessitados e ponderada nas decisões. Sentia-se serva na causa do povo sofrido. Atendia ao chamado de viver livre em função da verdade. Sua meta: Justiça e paz se abraçando.

O tempo que começa esta história converge com o governo da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, quando políticos opostos ao Partido dos Trabalhadores resolveram aplicar um golpe de estado, no ano de 2016, contra um projeto favorável aos pobres.
Eremita seguia como peregrina nesta estrada entre fé e vida. Pensava que os acontecimentos não eram por acaso. E não é. As manifestações populares que defendiam de fato e de direito a justiça social em nome da democracia alimentava a força da mulher eremitana como uma possibilidade da convivência humana. Esse vigor era uma inspiração para melhor conhecer o rosto humano e feminino de Deus.

Às vezes não compreendemos a nós mesmos. Nem refletimos bem sobre cada amanhecer. Mas nada está no vazio. Nosso raciocínio pode ser insuflado a ponto de obscurecer diante de lideranças que falam mentiras como verdades, ou de deixar a condição humana mais precária por enganação de gente que defende a lógica capitalista neoliberal. Não era o caso de Eremita. Esta tinha uma liderança independente. Agia com base nos valores fundamentais da vida. Se alguém tentasse propor algum suborno, estava fora de cogitação. Para os corruptos só sobrava denúncia e punição. Contudo, a resistência não alcançava os três poderes. Principalmente o judiciário.

Num determinado dia, no centro de uma praça da cidade, alguns vendedores ambulantes estavam numa discussão por causa da decisão da prefeitura que resolveu mudar o lugar de venda desses ambulantes para longe dos transeuntes, os compradores constantes do comércio. Era uma situação difícil. Entre esses comerciantes havia alguns que faziam parte do círculo de amizade de Eremita. Ao lado estava passando uma procissão para dentro de uma igreja que vivia movimentada. Tinha também seu comércio. Mas nada da prefeitura intervir. No meio daquela multidão uma voz ecoou como a de João Batista: “Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar?”...

A cada dia que passava sempre havia cenas reais da vida mostrando a realidade nua e crua, expressando sinais da opressão contra os pobres. Em cada rosto, a presença viva da divindade, o sopro da vida circulando no sangue de cada pessoa e em cada ser que respira. A sociedade assim era compreendida no olhar e no sentimento da consagrada Eremita. O dia passava e parecia que o sol entregava a lua como lenitivo para aliviar o cansaço da vida. Sem querer julgar a passagem de um dia, fica a esperança como semente plantada e adubada pelo agito dos desafios do cotidiano. Além de qualquer outra coisa, sempre fica um pensamento no ar. E nisso, a história contará.            Rm2