CAPÍTULO 1 – EREMITA
Eremita era uma mulher
consagrada ao trabalho missionário em favor dos pobres oprimidos, professora
atuante na cidade de Fortaleza, capital do Ceará. Pessoa de fé consciente,
racional, de luta e de festa. Centrada na missão com os mais necessitados e
ponderada nas decisões. Sentia-se serva na causa do povo sofrido. Atendia ao
chamado de viver livre em função da verdade. Sua meta: Justiça e paz se
abraçando.
O tempo que começa esta
história converge com o governo da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, quando
políticos opostos ao Partido dos Trabalhadores resolveram aplicar um golpe de
estado, no ano de 2016, contra um projeto favorável aos pobres.
Eremita seguia como
peregrina nesta estrada entre fé e vida. Pensava que os acontecimentos não eram
por acaso. E não é. As manifestações populares que defendiam de fato e de
direito a justiça social em nome da democracia alimentava a força da mulher
eremitana como uma possibilidade da convivência humana. Esse vigor era uma
inspiração para melhor conhecer o rosto humano e feminino de Deus.
Às vezes não
compreendemos a nós mesmos. Nem refletimos bem sobre cada amanhecer. Mas nada
está no vazio. Nosso raciocínio pode ser insuflado a ponto de obscurecer diante
de lideranças que falam mentiras como verdades, ou de deixar a condição humana
mais precária por enganação de gente que defende a lógica capitalista
neoliberal. Não era o caso de Eremita. Esta tinha uma liderança independente.
Agia com base nos valores fundamentais da vida. Se alguém tentasse propor algum
suborno, estava fora de cogitação. Para os corruptos só sobrava denúncia e
punição. Contudo, a resistência não alcançava os três poderes. Principalmente o
judiciário.
Num determinado dia, no
centro de uma praça da cidade, alguns vendedores ambulantes estavam numa
discussão por causa da decisão da prefeitura que resolveu mudar o lugar de
venda desses ambulantes para longe dos transeuntes, os compradores constantes
do comércio. Era uma situação difícil. Entre esses comerciantes havia alguns
que faziam parte do círculo de amizade de Eremita. Ao lado estava passando uma
procissão para dentro de uma igreja que vivia movimentada. Tinha também seu
comércio. Mas nada da prefeitura intervir. No meio daquela multidão uma voz
ecoou como a de João Batista: “Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a
fugir da ira que vai chegar?”...
A cada dia que passava sempre
havia cenas reais da vida mostrando a realidade nua e crua, expressando sinais
da opressão contra os pobres. Em cada rosto, a presença viva da divindade, o
sopro da vida circulando no sangue de cada pessoa e em cada ser que respira. A
sociedade assim era compreendida no olhar e no sentimento da consagrada
Eremita. O dia passava e parecia que o sol entregava a lua como lenitivo para
aliviar o cansaço da vida. Sem querer julgar a passagem de um dia, fica a
esperança como semente plantada e adubada pelo agito dos desafios do cotidiano.
Além de qualquer outra coisa, sempre fica um pensamento no ar. E nisso, a história
contará. Rm2