" ESCREVER É PRECISO "

terça-feira, 23 de maio de 2017

POESOFIA

DEVANEIO À MONTAIGNE

Do Renascimento humanista aflorou Montaigne,
antropocêntrico, cético e apológico.
De sentimento unificante entre seres,
teorizou um reino de liberdade.
Uniu o ser humano e o mundo
entrelaçando uma comunidade essencial
 prendendo todos a tudo:
terra, água, ar, vegetal e animal.
Questionador de si mesmo
entendendo que jamais poderia se compreender
e que ninguém atingiria a si mesmo, assim,
o ser humano nunca conheceria suas próprias razões.
Todo o conhecimento encerraria dentro do próprio ser pensante
de forma insegura, duvidosa e enigmática.
A pessoa é a sua própria metafísica, sua própria moral e religião.
Empirista, subjetivista, individualista, escravo da razão.
Em Montaigne a natureza do ser é pouco definida,
e o futuro é uma preocupação infeliz.
"Nunca estamos em nós; estamos sempre além."
Mas a morte não é a última palavra.
Esta é uma realidade verdadeira e não passa como mentira.
De fato, convivemos com as coisas existentes
e atormentados com a ideia que temos as coisas.
Ainda não aprendemos a viver,
muito menos a morrer,
e assim não aprendemos a ser livres.
A vida já é completa em si.
Basta agir para o bem.
O resto é discurso.
A ciência ajuda no conhecimento e na felicidade
além disso somos vítimas da curiosidade.
E da nossa lei primeira, a obediência,
intentamos ao contrário martirizando avida.
Nossa opinião é o que nos resta integralmente
e como sábio sentimos a fraqueza e a superioridade.
Nada somos senão barro, cinza e sombra no reflexo da luz.
Conhecemos melhor quando compreendemos a subjetividade.
Diante de tudo o que já conhecemos ainda é ínfimo perante nossa ignorância.
A dúvida nos perturba ao lado da fé e da razão
e em vão tentamos adivinhar o Transcendente.
Somos o objetivo de tudo o que existe.
Olhai o céu mas sem esquecer onde pisa.
As controvérsias ocorrem em torno do soberano bem.
Querer saber de nós é querer segurar a água
que escorre e transforma continuamente.
E querer saber de Deus, verdade inesgotável,
é querer elevar-se ao ápice imensurável.
Julgamos as coisas pelo tamanho de nosso pensamento.
O que vemos segue neste mesmo caminho.
Diante da incerteza é que acertamos.
Quanto maior a dificuldade, maior o desejo.
O desejo faz sofrer e o desapego liberta.
Como ficar tranquilo com tanta injustiça?
Voltando para dentro de cada um é que encontramos as respostas coletivas.
A nossa condição humana reside na simplicidade.
Nada é puro inteiramente, nem mesmo a religião.
Entre o meio e o fim existem diversos modos de agir e não é por acaso.
A crueldade é o ato do covarde e do ignorante que o faz tirano.
Devemos seguir sempre o caminho da fé, da moderação, da modéstia e da humildade,
na arte da conversação amigável e deixar o resto pela imaginação.

(Maio/2012)